4 de fev. de 2010

More na Tamarineira


Explica essa, Freud: vão vender a Tamarineira.

Parece conversa de sem juízo, mas quem pensou nisso está muito lúcido, isso sim. O terreno do manicômio vale uma nota e todo mundo sabe que rasgar dinheiro é coisa de maluco. Daqui a uns dias, os corretores de imóveis da cidade invadirão o local para dar alta aos residentes, sob o olhar atônito dos psiquiatras. Antigamente, ninguém queria morar na Tamarineira, nem de graça. Hoje, virou sonho de consumo e tem gente disposta a pagar caro.

Uma loucura, né?

Não faz muito e queriam vender a Jaqueira, pelo mesmo motivo. Mas depois de um bafafá, parece que desistiram. A verdade é que os operadores do mercado imobiliário não podem ver um espaço vazio que já pensam em preenchê-lo. Adoram uma plaquinha de vende-se. Gozam quando uma unidade de apartamento é negociada.

O que talvez poucos se lembrem é que o trânsito da cidade já anda enlouquecedor. E se naquela área ali começarem a brotar mais e mais prédios, não tardará o momento em que os motoristas estarão mais loucos no volante que os próprios loucos. No lugar do cinto de segurança, terão que usar camisa-de-força. E o pior de tudo é que a Tamarineira não estará lá para abrigá-los.

Segundo relato dos médicos, a notícia já se espalhou pelos corredores, causando frisson entre os internos. As farmácias na área já registraram um aumento na venda de calmantes, mas há suspeita de que provocado pelo consumo da vizinhança, com os nervos à flor da pele.

A situação está tão complicada que um enfermeiro, no último dia de exame, flagrou dois malucos conversando no pátio:

“Vão vender a Tamarineira”, disse um.
“É mesmo?”, respondeu o outro, questionando em seguida: “Quem disse?”
O primeiro: “Foi Deus”
E o segundo, balançando o dedinho, negativamente: “Eu, não...”