31 de mar. de 2010

Jesus Cristo, best-seller


Que Paulo Coelho que nada. Dan Brown? Não chega nem aos pés. Quando o assunto é vender livro, o nome é Jesus Cristo. Não bastasse ser o protagonista da Bíblia – que encabeça a lista de best-seller há pelo menos dois mil e poucos anos – Jesus é o responsável pelo milagre da multiplicação dos títulos. Basta uma olhadinha no Google, ou na estante da livraria mais próxima, para se encontrar uma infinidade de obras que pronunciam o nome Dele (muitas vezes em vão) na capa, num catálogo tão gigantesco quanto versátil de milagres e outras atividades mais mundanas atribuídas ao filho de Deus. Como a Páscoa está aí, batendo na porta, seja você um fiel leitor ou não, selecionei uma pequena lista, dividida por tópicos, do que é possível ler sobre o homem que morreu numa sexta-feira e vem ressuscitando o mercado editorial:

Administração
Para muitos, pecado capital é ter prejuízo. Assim, se você faz a linha capitalista-cristã, a lista começa com Jesus, o maior líder que já existiu, que deve trazer os dez mandamentos para você não falir. No mesmo sentido segue Jesus Coach, que pelo trocadilho deve ser ruim. Mas se com tudo isso sua empresa ainda não entrou no clima do crescei e multiplicai os seus lucros, apele para a bíblia da administração organizacional, que atende pelo nome de Jesus no coração da empresa.
Há outros títulos relacionados ao assunto, alguns com pessoas hierarquicamente superiores a Jesus Cristo, como em ...E Deus criou a empresa familiar, assim como referentes a subordinados Dele, tal O monge e o executivo.

Infanto-juvenil
Ao lado do Código Da Vinci, outro grande concorrente de Jesus Cristo na lista dos dez-mais é Harry Potter. Por isso, o lema é venha a mim as minhas criancinhas leitoras. Proezas do menino Jesus e Jesus, dos 13 aos 30, assim como nas aventuras do pequeno mago de Hogwarts, traz histórias recheadas de mágicas e dramas juvenis.

Psicologia
Embora haja quem insista em fomentar a intriga entre o pai Dele e o da psicanálise – como no livro Por que Freud rejeitou Deus? – parece que Jesus não se ateve a pormenores edipianos. Pelo menos é o que sugere Jesus, o maior psicólogo que já existiu, provavelmente uma tentativa de convencer o leitor a trocar o divã pelo confessionário na hora de exorcizar suas neuroses.

Socialismo
Para muitos socialistas, o cara de barba mais famoso do mundo não é Jesus, e sim, Che Guevara. O desdém por Ele e outros barbudos fica claro no livro Marx enganou Jesus e Lula enganou os dois, embora haja uma corrente meio “ateu graças a Deus” que promova uma reconciliação menos dialética, prometendo episódios anárquicos da vida Dele, vide Jesus – uma biografia revolucionária.

4 de fev. de 2010

More na Tamarineira


Explica essa, Freud: vão vender a Tamarineira.

Parece conversa de sem juízo, mas quem pensou nisso está muito lúcido, isso sim. O terreno do manicômio vale uma nota e todo mundo sabe que rasgar dinheiro é coisa de maluco. Daqui a uns dias, os corretores de imóveis da cidade invadirão o local para dar alta aos residentes, sob o olhar atônito dos psiquiatras. Antigamente, ninguém queria morar na Tamarineira, nem de graça. Hoje, virou sonho de consumo e tem gente disposta a pagar caro.

Uma loucura, né?

Não faz muito e queriam vender a Jaqueira, pelo mesmo motivo. Mas depois de um bafafá, parece que desistiram. A verdade é que os operadores do mercado imobiliário não podem ver um espaço vazio que já pensam em preenchê-lo. Adoram uma plaquinha de vende-se. Gozam quando uma unidade de apartamento é negociada.

O que talvez poucos se lembrem é que o trânsito da cidade já anda enlouquecedor. E se naquela área ali começarem a brotar mais e mais prédios, não tardará o momento em que os motoristas estarão mais loucos no volante que os próprios loucos. No lugar do cinto de segurança, terão que usar camisa-de-força. E o pior de tudo é que a Tamarineira não estará lá para abrigá-los.

Segundo relato dos médicos, a notícia já se espalhou pelos corredores, causando frisson entre os internos. As farmácias na área já registraram um aumento na venda de calmantes, mas há suspeita de que provocado pelo consumo da vizinhança, com os nervos à flor da pele.

A situação está tão complicada que um enfermeiro, no último dia de exame, flagrou dois malucos conversando no pátio:

“Vão vender a Tamarineira”, disse um.
“É mesmo?”, respondeu o outro, questionando em seguida: “Quem disse?”
O primeiro: “Foi Deus”
E o segundo, balançando o dedinho, negativamente: “Eu, não...”

11 de nov. de 2009

É a treva!

O noticiário anda meio retrô. Ou seria retrógrado? Muro de Berlim, minissaia, atentado à bomba e até um forçado jantar à luz a velas. Por via das dúvidas, enfiei uma naftalina na entrada USB da LCD. Na Alemanha, há duas décadas o chamado Muro da Vergonha caiu por causa da Perestroika. Na Uniban, há quem ache que a história da minissaia também tem algo a ver com uma Perestroika. Curta não é a saia, mas a inteligência de algumas pessoas. Pobre Geisy, teve seu dia de Geni. Quando ela posar na Playboy, vai se vingar do mundo comprando uma minissaia menor ainda, com o dinheiro do cachê. Daquelas da espessura de um cinto. Patético também foi o pantim da nossa polícia. E olha que há por lá um tal serviço que se diz de inteligência. Fecha rua, para o trânsito, cerca a área e chama a imprensa para ver o desarme de um artefato artístico. Os peritos não identificaram o que estava escrito na tal bomba, “mensagens desconexas” concluíram, quando na verdade se tratava da frase “eu te amo” em vários idiomas. Está certo que era uma obra de arte meia-bomba, mas não precisava tanto. A PM foi quem acabou detonada. Se bem que depois do apagão da última terça, quem ficou com vontade de jogar uma bomba na Celpe fui eu. Quem mora sozinho não tem muito o que fazer sem energia elétrica. Lembrei do pai de um colega, pirangueiro de dar dó, que ensinou os filhos a lerem em Braile só para reduzir a conta. Um visionário. Sabia que um dia os tempos de escuridão voltariam e as mulheres seriam novamente perseguidas por mostrarem o corpo, e que o velho candelabro da vovó serviria para iluminar um banquete a base de sanduíche e cafés frios. É a treva!

6 de nov. de 2009

Não fico bem de cinza



Do pó vieste, ao pó voltará. Parece propaganda de aspirador, mas o trecho é bíblico e, apesar dos séculos, não perdeu a validade. Está no jornal: começou a funcionar um crematório na cidade. O assunto é mórbido, porém necessário. Sempre que uma notícia assim surge, reaparece a polêmica envolvendo os que preferem o tradicional método de encarar a eternidade a sete palmos do chão e os adeptos do bronzeamento radical da carne. Apodrecer ou assar, eis a questão? Entre um e outro, confesso, prefiro os dois de uma vez a ter que passar a eternidade assistindo à programação dominical de TV. Ser enterrado é uma cerimônia mais romântica, envolve flores, choro e vela, mas não deve ser muito confortável para o defunto ficar deitado aquele tempo todo, espremido no caixão. Mesmo que ele já tenha passado desta para pior. Só se o referido tiver vocação para vampiro. A cremação é mais rápida, na base do sistema fast-fúnebre. Nada de ficar ocupando espaço em tempos onde as pessoas se apertam por aí. Em poucos minutos, o falecido, como um gênio de fábula, cabe dentro de uma garrafa, que o familiar pode levar para casa e botar na estante. O problema é se a faxineira não for muito atenta.

"A cremação é mais rápida, na base do sistema fast-fúnebre"

Bastante em voga atualmente, a questão ambiental também pode pesar na escolha. Porém, também não há consenso. Se cremar pode poluir o ar e ainda colaborar com o aquecimento global, é bom lembrar que o féretro é feito de madeira, aumentando os índices de desmatamento. Certo, mesmo, é que a concorrência deve melhorar o serviço e logo a gente as funerárias oferecerão vantagens como covas com vista para o mar ou cremação com forno à lenha. Ainda não fiz minha escolha, mas devo optar pelo método tradicional. Afinal, nunca fiquei bem de cinza.

5 de nov. de 2009

A Revolução das Bengalas


Li outro dia que os aposentados estão em polvorosa, só para usar um termo igualmente em franca aposentadoria. Os velhinhos gritam, em parte, pelos vencimentos defasados e também porque o jeito é berrar mesmo, afinal, a audição já não é mais a mesma. Alguns nem se recordam do último aumento, como também do nome das pessoas, do que comeram no café-da-manhã e de tomar o remédio contra o Alzheimer. O problema é que, ao contrário dos que estão na ativa, não podem fazer greve, pois já pararam de trabalhar há algum tempo. Fico pensando no dia em que os aposentados, cansados da humilhação da sociedade, resolvam protestar voltando ao batente. Numa certa manhã, você chegaria ao escritório e lá estaria um senhor de pijama, a barba por fazer, jogando paciência no computador, enquanto espera o download da coleção completa de Nelson Gonçalves. No lugar da secretária boazuda, uma vovó de cabelos brancos e xale travaria uma luta com a impressora multifuncional, nostálgica do bom e velho aparelho de telex. E toda atenção ao beber água, para não acabar engolindo uma dentadura esquecida no copo descartável! O único fato ainda familiar seria o chefe continuar trocando o seu nome. As reuniões seriam ainda mais demoradas, interrompidas por constantes ataques de tosse, contagiando os presentes até formar um estranho coral. Restabelecida a ordem, alguém perguntaria “o que eu estava falando, mesmo?” sem que algum dos presentes se lembrasse da resposta. A invasão da mão-de-obra da terceira idade culminaria com uma marcha de chinelos se arrastando até o Planalto, em Brasília, onde o presidente seria deposto. No lugar dele, assumiria o cargo o mais idoso entre os protestantes. O novo mandatário ordenaria a retirada da cadeira presidencial e, como marco da tomada ao poder, instalaria o símbolo maior da aposentadoria: uma confortável cadeira-de-balanço.

28 de out. de 2009

A contusão no bolso do jogador

Mais do que romper o ligamento, distender um músculo ou quebrar a perna, a contusão que o jogador de futebol mais teme é a do bolso. O cartola sabe desse ponto fraco. Basta um pisar na bola e tome multa, tantos por cento a menos no contracheque. Tem dirigente que ainda por cima é cara-de-pau e desconta até o salário que está em atraso. Assim como todo mundo, o atleta obviamente não gosta da história, mas na frente da imprensa faz uma cara blasé e finge que não está nem aí, que é assim mesmo e que isso não é “pobrema”.

"Afinal, será que esses malditos sabem quanto está o
litro do leite, da cerveja ou da água oxigenada?"

Por dentro, não, fica remoendo, jurando um “eles vão ver, eles vão ver”, enquanto pensa nos subtraídos trocados dos filhos, da esposa, das amantes, dos vendedores de cordões de ouro, dos negociadores de carrão de luxo e demais gêneros de primeira necessidade de todo desportista que se preze. Afinal, será que esses malditos sabem quanto está o litro do leite, da cerveja ou da água oxigenada? E maria-chuteira com cabelo preto ninguém merece. Imagino a cena, o boleiro entrando no departamento financeiro do clube e perguntando ao diretor: “E aí, doutor, é grave?”. Do outro lado do birô, o burocrata barrigudo consulta o extrato do banco como quem vê o resultado de uma ressonância magnética. “Quarenta por cento”, responde, meneando a cabeça de um lado para o outro, com o pesar de quem está dando uma notícia fatal. A vítima então cai no chão e começa a rolar, se contorcendo como se tivesse levado um bicudo na canela. Só que ao invés de esfregar a mão na perna, acaricia o vilipendiado bolso. Perder grana é pior que desperdiçar pênalti em final de campeonato ou esquentar o banco uma temporada inteira. E olha que calção de jogador nem bolso tem.

27 de out. de 2009

As verdeiras dicas para o feriadão

Praia, bar, restaurante, passeio de barco etecétera e tal. Quando um feriadão se avizinha, os jornais se enchem de sugestões para os leitores ansiosos por um dolce far niente. Mas não é bem assim. Com a experiência de quem teve a audácia de seguir os conselhos da imprensa nos dois últimos feriadões, eis o que na verdade esperam vocês no final de semana prolongado:

Sightseeing pela feira de Abreu e Lima: parada obrigatória para quem vai ao Litoral Norte, não porque há o que se fazer lá, e sim, pelo engarrafamento. Reserve pelo menos uma hora de seu feriadão para conferir pessoas atravessando fora da faixa de pedestre, e vendedores com galinhas vivas penduradas nos ombros.

Pare e siga em Goiana: com as obras de duplicação da BR 101 Norte é bem provável que você encontre um pela frente. Trata-se de um homenzinho girando uma plaquinha escrita de um lado “pare” e do outro “siga”, atrapalhando assim o fluxo na via. Aproveite a fila quilométrica para conferir como andam as obras na estrada e se seu filho ficar pentelhando no carro, aponte para um dos tratores estacionados no acostamento e diga para ele: “Olhe, filho, um trator”. Funciona pelo menos na primeira vez.

Blitz do bafômetro em Tamandaré: esqueça os passeios de bugue em Natal. Medo, mesmo, dá encarar a blitz do Detran em Tamandaré, armada na única avenida da cidade, de 9h até o último cliente. São mais de 50 agentes fardados e prontos para confiscarem a sua carteira ao mínimo sinal de que você cometeu o crime de tomar uma caipirosca ou um copo americano de cerveja bem gelada. E não adianta argumentar que está fazendo 40 graus na sombra, pois o guarda sabe disso e, assim como você, gostaria de estar enchendo a caveira ao invés de passar o dia enfiando um trambolho na boca dos outros. Caso contrário, ele seria dentista, não é mesmo?

Arrastão na PE-60: um clássico do verão pernambucano, situado bem na saída de Porto de Galinhas. Venha sentir um friozinho na barriga (se seu carro tiver ar-condicionado, é claro), acompanhado de milhares de outros turistas que deixaram para sair da praia no último dia do feriadão. Assalto à mão armada, arrastões e outros tipos de táticas para levar até o último centavo do seu dinheiro. A dica é ter muito cuidado se for desesperadamente deixar o carro para não ser atropelado por um motorista metido a esperto que vem cortando o trânsito pelo acostamento.