11 de nov. de 2009

É a treva!

O noticiário anda meio retrô. Ou seria retrógrado? Muro de Berlim, minissaia, atentado à bomba e até um forçado jantar à luz a velas. Por via das dúvidas, enfiei uma naftalina na entrada USB da LCD. Na Alemanha, há duas décadas o chamado Muro da Vergonha caiu por causa da Perestroika. Na Uniban, há quem ache que a história da minissaia também tem algo a ver com uma Perestroika. Curta não é a saia, mas a inteligência de algumas pessoas. Pobre Geisy, teve seu dia de Geni. Quando ela posar na Playboy, vai se vingar do mundo comprando uma minissaia menor ainda, com o dinheiro do cachê. Daquelas da espessura de um cinto. Patético também foi o pantim da nossa polícia. E olha que há por lá um tal serviço que se diz de inteligência. Fecha rua, para o trânsito, cerca a área e chama a imprensa para ver o desarme de um artefato artístico. Os peritos não identificaram o que estava escrito na tal bomba, “mensagens desconexas” concluíram, quando na verdade se tratava da frase “eu te amo” em vários idiomas. Está certo que era uma obra de arte meia-bomba, mas não precisava tanto. A PM foi quem acabou detonada. Se bem que depois do apagão da última terça, quem ficou com vontade de jogar uma bomba na Celpe fui eu. Quem mora sozinho não tem muito o que fazer sem energia elétrica. Lembrei do pai de um colega, pirangueiro de dar dó, que ensinou os filhos a lerem em Braile só para reduzir a conta. Um visionário. Sabia que um dia os tempos de escuridão voltariam e as mulheres seriam novamente perseguidas por mostrarem o corpo, e que o velho candelabro da vovó serviria para iluminar um banquete a base de sanduíche e cafés frios. É a treva!

6 de nov. de 2009

Não fico bem de cinza



Do pó vieste, ao pó voltará. Parece propaganda de aspirador, mas o trecho é bíblico e, apesar dos séculos, não perdeu a validade. Está no jornal: começou a funcionar um crematório na cidade. O assunto é mórbido, porém necessário. Sempre que uma notícia assim surge, reaparece a polêmica envolvendo os que preferem o tradicional método de encarar a eternidade a sete palmos do chão e os adeptos do bronzeamento radical da carne. Apodrecer ou assar, eis a questão? Entre um e outro, confesso, prefiro os dois de uma vez a ter que passar a eternidade assistindo à programação dominical de TV. Ser enterrado é uma cerimônia mais romântica, envolve flores, choro e vela, mas não deve ser muito confortável para o defunto ficar deitado aquele tempo todo, espremido no caixão. Mesmo que ele já tenha passado desta para pior. Só se o referido tiver vocação para vampiro. A cremação é mais rápida, na base do sistema fast-fúnebre. Nada de ficar ocupando espaço em tempos onde as pessoas se apertam por aí. Em poucos minutos, o falecido, como um gênio de fábula, cabe dentro de uma garrafa, que o familiar pode levar para casa e botar na estante. O problema é se a faxineira não for muito atenta.

"A cremação é mais rápida, na base do sistema fast-fúnebre"

Bastante em voga atualmente, a questão ambiental também pode pesar na escolha. Porém, também não há consenso. Se cremar pode poluir o ar e ainda colaborar com o aquecimento global, é bom lembrar que o féretro é feito de madeira, aumentando os índices de desmatamento. Certo, mesmo, é que a concorrência deve melhorar o serviço e logo a gente as funerárias oferecerão vantagens como covas com vista para o mar ou cremação com forno à lenha. Ainda não fiz minha escolha, mas devo optar pelo método tradicional. Afinal, nunca fiquei bem de cinza.

5 de nov. de 2009

A Revolução das Bengalas


Li outro dia que os aposentados estão em polvorosa, só para usar um termo igualmente em franca aposentadoria. Os velhinhos gritam, em parte, pelos vencimentos defasados e também porque o jeito é berrar mesmo, afinal, a audição já não é mais a mesma. Alguns nem se recordam do último aumento, como também do nome das pessoas, do que comeram no café-da-manhã e de tomar o remédio contra o Alzheimer. O problema é que, ao contrário dos que estão na ativa, não podem fazer greve, pois já pararam de trabalhar há algum tempo. Fico pensando no dia em que os aposentados, cansados da humilhação da sociedade, resolvam protestar voltando ao batente. Numa certa manhã, você chegaria ao escritório e lá estaria um senhor de pijama, a barba por fazer, jogando paciência no computador, enquanto espera o download da coleção completa de Nelson Gonçalves. No lugar da secretária boazuda, uma vovó de cabelos brancos e xale travaria uma luta com a impressora multifuncional, nostálgica do bom e velho aparelho de telex. E toda atenção ao beber água, para não acabar engolindo uma dentadura esquecida no copo descartável! O único fato ainda familiar seria o chefe continuar trocando o seu nome. As reuniões seriam ainda mais demoradas, interrompidas por constantes ataques de tosse, contagiando os presentes até formar um estranho coral. Restabelecida a ordem, alguém perguntaria “o que eu estava falando, mesmo?” sem que algum dos presentes se lembrasse da resposta. A invasão da mão-de-obra da terceira idade culminaria com uma marcha de chinelos se arrastando até o Planalto, em Brasília, onde o presidente seria deposto. No lugar dele, assumiria o cargo o mais idoso entre os protestantes. O novo mandatário ordenaria a retirada da cadeira presidencial e, como marco da tomada ao poder, instalaria o símbolo maior da aposentadoria: uma confortável cadeira-de-balanço.